— Ah! você compreende... aquele lá, daroga, eu não ia levá-lo assim sem mais nem menos para cima da terra... Era um refém... Mas eu não podia tampouco guardá-lo na morada do Lago, por causa de Christine; então, tranquei-o, acorrentei-o convenientemente (com o perfume de Mazenderã ele tinha ficado mole como um trapo) no calabouço dos communards que fica na parte mais deserta do mais distante porão da Ópera, abaixo do quinto subsolo, lá aonde ninguém nunca vai e de onde não é possível fazer-se ouvir por ninguém. Fiquei sossegado e voltei para junto de Christine. Ela estava me esperando...
Neste ponto de sua narrativa parece que o fantasma se levantou tão solenemente que o Persa, que retomara lugar na poltrona, teve de se levantar também, como que obedecendo ao mesmo movimento e sentindo que era impossível ficar sentado num momento tão solene e até (disse-me o próprio Persa) tirou, embora estivesse com a cabeça raspada, o seu boné de astracã.
— Sim, ela estava me esperando! — retomou Erik, que se pôs a tremer como uma folha, mas a tremer de uma verdadeira emoção solene. — Estava me esperando de pé, viva, como uma noiva viva de verdade, pela sua salvação eterna... E quando me adiantei em sua direção, mais tímido do que uma criancinha, ela não fugiu... não, não... ficou ali... me esperou... acho até, daroga, que ela um pouco... oh! não muito... mas um pouco, como uma noiva, aproximou a sua testa... E... e... eu a... beijei!... Eu!... eu!... eu!... E ela não morreu!... E ficou ali bem naturalmente, ao meu lado, depois que eu a beijei, assim... na testa... Ah! como é bom, daroga, beijar alguém!... Você não pode saber, não pode!... Mas eu! eu!... Minha mãe, daroga, minha pobre miserável mãe nunca quis que eu a beijasse... Ela fugia... lançando-me a minha máscara!... nem nenhuma mulher!... nunca!... nunca!... Ah! ah! ah! Então, eu chorei de tamanha felicidade. E caí chorando aos seus pés.... e beijei os seus pés, seus pezinhos, chorando... Você também está chorando, daroga; e ela também chorava... o anjo chorou...
Enquanto contava essas coisas, Erik soluçava, e o Persa, realmente, não conseguia reter as lágrimas diante daquele homem mascarado que, sacudindo os ombros, com a mão no peito, gemia ora de dor, ora de enternecimento.
— ... Oh! daroga, eu senti as lágrimas dela correrem sobre a minha testa! sobre a minha testa! Eram quentes... eram suaves!... inundavam tudo debaixo da minha máscara, as lágrimas dela!... iam misturar-se com as minhas, nos meus olhos!... escorriam até na minha boca... Ah! as suas lágrimas sobre mim! Escute, daroga, escute o que eu fiz... Arranquei a minha máscara para não perder uma só de suas lágrimas... E ela não fugiu!... E ela não morreu! Permaneceu viva, a chorar... sobre mim... comigo... Nós choramos juntos!... Senhor do céu! vós me destes toda a felicidade do mundo!...
E na próxima segunda
Veronika decide morrer
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