Classificação: 18 anos
À medida que atravessava Screamer’s, Wrath esboçou um depreciativo sorriso enquanto a multidão tropeçava entre si para se afastar de seu caminho. De seus poros emanava medo e uma curiosidade mórbida e luxuriosa. O vampiro inalou o fétido aroma.
Gado. Todos eles.
Apesar de usar os óculos escuros, seus olhos não puderam suportar a tênue luz, e teve que fechar as pálpebras. Sua vista era tão ruim que ficava muito mais cômodo em total escuridão. Concentrando-se em seu ouvido, esquivou os corpos entre os compassos da música, isolando o arrastar de pés, o sussurro de palavras, o som de algum copo estilhaçando-se contra o chão. Se tropeçasse em algo, não lhe importava. Dava no mesmo o que fosse: uma cadeira, uma mesa, um humano..., simplesmente passava por cima do que fosse.
Notou a presença do Darius claramente porque o seu era o único corpo daquele maldito lugar que não cheirava a pânico. Embora o guerreiro estivesse no limite essa noite.
Wrath abriu os olhos quando estava na frente do outro vampiro. Darius era um vulto disforme, sua cor escura e sua roupa negra eram só o que a vista de Wrath conseguia distinguir.
— Aonde foi Tohrment? — perguntou ao sentir um eflúvio de uísque escocês.
Wrath se sentou em uma cadeira. Olhou fixamente à frente e observou à multidão ocupando de novo o espaço que ele tinha deixado entre eles.
Esperou.
Darius se distinguia por não andar pelos ramos e sabia que Wrath não suportava que o fizessem perder tempo. Se guardasse silêncio, era porque algo acontecia.
Darius bebeu um gole de sua cerveja, logo respirou com força.
— Obrigado por vir, meu senhor...
— Se quiser algo de mim, não comece com isso — disse Wrath com voz lenta, advertindo que uma garçonete se aproximava. Pôde perceber uns seios grandes e uma franja de pele entre a blusa apertada e a saia curta.
— Querem algo de beber? — perguntou ela lentamente. Ficou tentado em sugerir que se deitasse sobre a mesa e deixasse ele beber de sua jugular. O sangue humano não o manteria vivo muito tempo, mas com toda segurança teria melhor sabor que o álcool aguado.
— Agora não — disse.
Seu hermético sorriso excitou a ansiedade dela lhe causando, ao mesmo tempo, uma rajada de desejo. Ele pôde notar esse aroma nos pulmões.
Não estou interessado, pensou.
A garçonete assentiu, mas não se moveu. ficou ali, olhando-o fixamente, com seu cabelo loiro curto formando um halo na escuridão ao redor de seu rosto. Encantada, parecia ter esquecido seu próprio nome e seu trabalho.
E que incômodo era aquilo. Darius se mexeu impaciente.
— Isso é tudo — murmurou. — Estamos satisfeitos.
Quando a moça se afastou, perdendo-se entre a multidão, Wrath escutou Darius clarear a garganta.
— Obrigado por vir. — Isso vai há ... conhecemos-nos faz tempo. — Assim é.
— Lutamos juntos muitas vezes, eliminamos a montes de lessers.
Wrath assentiu. A Irmandade da Adaga Negra tinha protegido a raça contra a Sociedade Lessening durante gerações. Estavam Darius, Tohrment e os outros quatro. Os irmãos eram superados em número pelos lessers, humanos sem alma que serviam a um malvado amo, o Omega. Mas Wrath e seus guerreiros estavam decididos a proteger aos seus.
Darius pigarreou de novo. — depois de todos estes anos...
— D, vá direto ao assunto. Marissa necessita de mim para um pequeno assunto esta noite.
— Quer utilizar minha casa outra vez? Sabe que não permito que ninguém mais fique nela. — Darius deixou escapar uma risada incômoda. — Estou seguro de que seu irmão preferiria que não aparecesse na sua casa.
Wrath cruzou os braços sobre o peito, empurrando a mesa com a bota para ter um pouco mais de espaço.
Importava-lhe pouco que o irmão da Marissa fosse muito sensível e se sentisse ofendido pela vida que Wrath levava. Havers era um esnobe e um diletante cuja insensatez ultrapassava todos os limites. Era totalmente incapaz de entender a classe de inimigos que tinha a raça e o que custava defender seus membros. E só porque o moço se sentia ofendido, Wrath não ia brincar de cavalheiro enquanto assassinavam a civis. Ele tinha que estar no campo de batalha com seus guerreiros, não ocupando um trono. Havers podia ir passear.
Embora Marissa não tivesse por que suportar a atitude de seu irmão.
— Talvez aceite sua oferta.
— Bem.
— Agora fala.
— Tenho uma filha.
Wrath girou lentamente a cabeça.
— Desde quando?
— Há algum tempo.
— Quem é a mãe?
— Não a conhece. E ela... ela morreu.
O pesar de Darius se espalhou a seu redor com um acre aroma de dor antiga que se sobrepôs ao fedor de suor humano, álcool e sexo do clube.
— Que idade tem? — exigiu saber Wrath. Começava a pressentir para onde se encaminhava aquele assunto.
— Vinte e cinco.
Wrath sussurrou uma maldição.
— Não me peça isso, Darius. Não me peça que o faça. — Tenho que lhe pedir. Meu senhor, seu sangue é...
— Chame-me assim outra vez e terei que fechar sua boca para sempre.
— Não o entende. Ela é...
Wrath começou a levantar-se. A mão de Darius segurou seu antebraço e o soltou rapidamente.
— É meio humana.
— Por Deus...
— É possível que não sobreviva à transição. Escuta, se você ajudá-la, pelo menos terá uma oportunidade. Seu sangue é muito forte, aumentaria suas probabilidades de sobreviver à mudança sendo uma mestiça. Não estou pedindo que a tome como shellan, nem que a proteja, porque, eu posso fazê-lo. Só estou tentando... Por favor. Meus outros filhos morreram. Ela é a única que ficará de mim. E eu... amei muito a sua mãe.
Se tivesse sido qualquer outro, Wrath teria usado sua frase favorita: Vá à merda. Pelo que ele sabia, só havia duas boas posturas para um humano. Uma fêmea, sobre suas costas. E um macho, de barriga para baixo e sem respirar.
Mas Darius era quase um amigo. Ou teria sido, se Wrath lhe tivesse permitido aproximar-se.
Quando se levantou, fechou os olhos com força. O ódio o embargava concentrando-se no centro de seu peito. Desprezou a si mesmo por partir, mas simplesmente não era a espécie de macho que ajudasse a qualquer pobre mestiço a suportar um momento tão doloroso e perigoso. A cortesia e a piedade não eram palavras que faziam parte de seu vocabulário.
— Não posso fazê-lo. Nem sequer por você.
A angústia de Darius o atingiu como uma grande onda, e Wrath cambaleou ante a força de semelhante emoção. Então, apertou o ombro do vampiro.
— Se na verdade a amas, faça-lhe um favor: peça a outro.
Wrath deu a volta e saiu do local. A caminho da porta apagou a imagem de si mesmo do córtex cerebral de todos os humanos do lugar. Os mais fortes pensariam que tinham sonhado. Os fracos nem sequer o recordariam.
Ao sair à rua, dirigiu-se a um canto escuro atrás do Screamer’s para poder materializar-se. Passou junto a uma mulher que fazia um boquete em um sujeito entre as sombras. A poucos metros, um vagabundo bêbado dormia no chão e, um traficante de drogas discutia pelo celular o preço do crack. Wrath soube imediatamente que o seguiam e quem era. O doce aroma de talco para bebês os delatavam sem remédio.
Sorriu amplamente, abriu sua jaqueta de couro e tirou um de seus hira shuriken. A estrela feita de aço inoxidável se acomodava perfeitamente à palma de sua mão. Quase cem gramas de morte preparados para sair voando.
Com a arma na mão, Wrath não alterou o passo, embora seu desejo fosse ocultar-se rapidamente na escuridão. Estava ansioso por brigar depois de deixar Darius plantado, e aquele membro da Sociedade Lessening tinha chegado no momento certo.
Matar a um humano sem alma era precisamente o que necessitava para eliminar seu mal-estar.
À medida que atraía ao lesser para a densa escuridão, o corpo de Wrath ia se preparando para a luta, seu coração batia pausadamente, os músculos de seus braços e coxas se contraíram. Percebeu o ruído de uma arma sendo engatilhada e calculou a direção do projétil. Apontava para a parte traseira de sua cabeça.
Com um rápido movimento, girou sobre si mesmo no momento em que a bala saía da arma. Inclinou-se e lançou a estrela, que com um brilho prateado começou a traçar um arco mortífero. Acertou ao lesser exatamente no pescoço, cortando-lhe a garganta antes de continuar seu caminho para a escuridão. A pistola caiu ao chão, chocando ruidosamente contra o pavimento.
O lesser segurou o pescoço com ambas as mãos e caiu de joelhos.
Wrath se aproximou dele, revistou-lhe os bolsos e guardou a carteira e o telefone que levava.Depois tirou uma longa faca negra de uma capa que usava no peito. Sentia que a luta não tivesse durado mais, mas a julgar pelo cabelo escuro e encaracolado e o ataque relativamente torpe, tratava-se de um novato. Com um
rápido empurrão, colocou o lesser de barriga para cima, atirou a faca ao ar, e segurou o punho com um rápido giro de pulso. A lâmina se afundou na carne, atravessou o osso e chegou até o negro vazio onde estava o coração.
Com um som apagado, o lesser se desintegrou em um brilho de luz.
Wrath limpou a lâmina em suas calças de couro, deslizou-a para dentro da capa e ficou de pé, olhando a seu redor. A seguir, se desmaterializou.
Darius bebeu uma terceira cerveja. Um casal de fanáticos do estilo gótico se aproximou dele, procurando uma oportunidade de ajudá-lo a esquecer seus problemas. Ele rechaçou o convite.
Saiu do bar e se encaminhou para seu BMW 6501 estacionado no beco atrás do clube. Como qualquer vampiro que se preze, ele podia se materializar a vontade e atravessar grandes distâncias, mas era um truque difícil de executar se carregasse algo pesado. E não era algo que alguém queria tornar público. Além disso, um carro elegante sempre era digno de admiração.
Subiu ao automóvel e fechou a porta. Do céu começaram a cair gotas de chuva, manchando o pára-brisa como grossas lágrimas.
Não tinha esgotado suas opções. O bate-papo sobre o irmão de Marissa o tinha deixado pensativo. Havers era um médico totalmente entregue à raça. Talvez ele pudesse ajudá-lo. Certamente, valia a pena tentá-lo.
Ensimesmado em seus pensamentos, Darius introduziu a chave no contato e a fez girar. O motor fez um som rouco. Girou a chave de novo, e no instante em que escutou um rítmico tictac, teve uma terrível premonição.
A bomba, que tinha sido acoplada ao chassi do carro e conectada ao sistema elétrico, explodiu.
Enquanto seu corpo ardia com um estalo de calor branco, seu último pensamento foi para a filha que ainda não o conhecia. E que nunca o faria.
Adaga Negra - Amante Escuro (Episódio 2)
terça-feira, 20 de outubro de 2009Postado por Vladimir Ambrosine às 23:00
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