segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Classificação: 18 anos

Quando o táxi deixou Beth frente ao Screamer’s, a cena do crime se encontrava em plena atividade. Brilhos de luzes azuis e brancas saíam dos carros patrulha que bloqueavam o acesso ao beco. O quadrado veículo blindado dos técnicos tinha chegado. O lugar estava lotado de agentes tanto de uniforme como vestidos de civil. E a habitual multidão de curiosos ébrios, apropriou-se da periferia do cenário fumando e conversando. Em todos os anos que levava como repórter, tinha descoberto que um homicídio era um acontecimento social em Caldwell. Evidentemente para todos menos para o homem ou mulher que tinha morrido. Para a vítima, imaginava, a morte era um assunto bastante solitário, embora tivesse visto frente a frente o rosto de seu assassino. Algumas pontes temos que cruzar a sós, sem importar quem nos empurre pela borda.
Beth cobriu a boca com a manga. O aroma de metal queimado, um pungente fedor químico, invadiu seu nariz.
— Ouça, Beth! — Um dos agentes acenou. — Se quer se aproximar mais, entra no Screamer's e sai pela porta traseira. Há um corredor...
— De fato, vim ver o José. Está por aqui? O agente esticou o pescoço, procurando entre a multidão. — Estava aqui faz um minuto. Talvez tenha voltado para a delegacia de polícia. Ricky! Viu ao José?
Butch O’Neal parou frente a ela, silenciando ao outro policial com um sombrio olhar.
— Que surpresa.
Beth deu um passo atrás. El Duro era um bom espécime de homem. Corpo grande, voz grave, presença avassaladora. Supunha que muitas mulheres se sentiriam atraídas por ele, porque não podia negar que era de aparência agradável, de uma maneira tosca, rude. Mas Beth nunca havia sentido soltar uma faísca.
Não é que os homens não a fizessem sentir nada, mas aquele homem, em concreto, não a interessava.
— Então, Randall, o que a traz por aqui? — levou um pedaço de chiclete à boca e enrugou o papel formando uma bolinha. Seu queixo ficou a trabalhar como se estivesse frustrado; não mastigava, amassava.
— Estou aqui pelo José. Não pelo crime.
— Claro que sim. — Entrecerrou os olhos. Com suas sobrancelhas de cor castanha e seus olhos profundos, parecia sempre um pouco zangado, mas, bruscamente, sua expressão piorou
— Pode vir comigo um segundo?
— Na realidade preciso ver o José...
Ele segurou seu braço com um forte apertão.
— Só venha aqui. — Butch a levou a um canto isolado do beco, longe do burburinho.
— Que diabos aconteceu com seu rosto?
Ela ergueu a mão e cobriu o lábio ferido. Ainda devia estar abalada, porque tinha esquecido de tudo.
— Repetirei a pergunta — disse. — Que diabos aconteceu?
— Eu, é... — A garganta lhe fechou.
— Estava... — Não ia chorar. Não diante de El Duro.
— Preciso ver José.
— Não está aqui, assim não poderá contar com ele. Agora fale.
Butch lhe imobilizou os braços dos lados, como se pressentisse que podia sair correndo. Ele media só uns poucos centímetros mais que ela, mas a prendia com 30 quilos de músculo pelo menos.
O medo se instalou em seu peito como se quisesse perfurá-la, mas já estava farta de ser maltratada fisicamente essa noite.
— Me solte, O'Neal — Colocou a palma da mão no peito do homem e empurrou. Ele se moveu um pouco.
— Beth, me diga...
— Se não me soltar... — seu olhar sustentou a dele, — vou publicar um artigo sobre suas técnicas de interrogatório. Já sabe, as que necessitam raios X e gesso quando termina.
Os olhos de O'Neal se entrecerraram de novo. Afastou os braços de seu corpo e levantou as mãos como se estivesse rindo.
— Está bem. — Deixou-a e retornou à cena do crime. Beth apoiou as costas contra o edifício, e sentiu que suas pernas fraquejavam. Olhou para baixo, tratando de reunir forças, e viu algo metálico. Dobrou os joelhos e se inclinou. Era uma estrela de arremesso de artes marciais.
— Ouça, Ricky! — chamou. O policial se aproximou, e ela apontou ao chão.
— Provas.
Deixou-o fazer seu trabalho e se dirigiu a toda pressa à rua Trade para pegar um táxi. Simplesmente, já não podia suportar mais.
No dia seguinte apresentaria uma denúncia oficial para José. A primeira hora da manhã.
Quando Wrath reapareceu no salão, tinha recuperado o controle. Suas armas estavam em suas respectivas capas e sua jaqueta pesava na mão, cheia das estrelas de arremesso e facas que gostava de utilizar.
Tohrment foi o primeiro da Irmandade a chegar. Tinha os olhos acesos, a dor e a vingança faziam o azul escuro brilhar de maneira tão vívida que até Wrath pôde captar o brilho de cor.
Enquanto Tohr se recostava contra uma das paredes amarelas de Darius, Vishous entrou na residência. O cavanhaque que deixou crescer fazia pouco dava-lhe um aspecto mais sinistro que o habitual, embora fosse a tatuagem ao redor de seu olho esquerdo o que realmente o colocava no campo do assustador. Essa noite tinha bem enterrada na cabeça uma boina dos Red Sox e as complexas marcas das têmporas quase não se viam. Como sempre, sua luva negra de condutor, que usava para que sua mão esquerda não entrasse em contato com ninguém inadvertidamente, estava em seu lugar.
O que era algo bom. Um maldito serviço público.
Seguiu-lhe Rhage. Tinha suavizado sua atitude arrogante em deferência ao motivo da convocação daquela reunião. Rhage era um macho muito alto, enorme, poderoso, mais forte que o resto dos guerreiros. Também era uma lenda sexual no mundo dos vampiros, bonito como um galã de cinema e com um vigor capaz de rivalizar com um rebanho de garanhões. As fêmeas, tanto vampiras como humanas, pisoteariam a suas próprias crias para chegar a ele.
Pelo menos até que vislumbrassem seu lado escuro. Quando a besta de Rhage saía à superfície, todos, irmãos incluídos, procuravam refúgio e começavam a rezar.
Phury era o último. Sua claudicação era quase imperceptível. Sua perna ortopédica tinha sido substituída fazia pouco, e agora estava composta por uma liga de titânio e carbono de última tecnologia. A combinação de barras, articulações e perna estava atarraxada à base da coxa direita.
Com sua fantástica juba de cabelos multicoloridos, Phury deveria estar acompanhado de atrizes e modelos, mas tinha se mantido fiel a seu voto de castidade. Só havia lugar para um único amor em sua vida, E isso tinha estado matando-o lentamente durante anos.
— Onde está seu gêmeo? — perguntou Wrath.
— Z está a caminho.
Que Zsadist chegasse por último não era nenhuma surpresa. Z era um gigantesco e violento perigo para o mundo. Um maldito bastardo que blasfemava a todas as horas e que levava o ódio, especialmente pelas fêmeas, a novos níveis. Por fortuna, entre seu rosto coberta de cicatrizes e seu cabelo talhado ao corte de barba, tinha um aspecto tão aterrador como realmente era, de modo que as pessoas estavam acostumadas a se afastarem de seu caminho.
Raptado de sua família quando era uma criança, tinha acabado como escravo de sangue, e o mau trato nas mãos de sua ama tinha sido brutal em todos os sentidos. Phury levou quase um século para encontrar a seu gêmeo, e Z tinha sido torturado a ponto de ser dado por morto antes de ser resgatado.
Um mergulho e o sal do oceano tinha cicatrizado as feridas na pele do Zsadist, e além do labirinto de cicatrizes, ainda exibia as tatuagens de escravo, assim como vários piercings que ele mesmo tinha acrescentado, só porque gostava da sensação de dor.
Com toda certeza, Z era o mais perigoso dos membros da Irmandade. Depois do que tinha suportado, não lhe importava nada nem ninguém. Nem sequer seu irmão.
Até Wrath protegia suas costas na presença daquele guerreiro.
Sim, a Irmandade da Adaga Negra era um grupo diabólico. O único que se interpunha entre a população de vampiros civis e os lessers.
Cruzando os braços, Wrath passou o olhar pela sala, observando a cada um dos guerreiros, pensando em suas forças, mas também em suas maldições.
Com a morte de Darius, recordou que, embora seus guerreiros estivessem dando duros golpes às legiões de assassinos da Sociedade, havia muito poucos irmãos lutando contra uma inesgotável e autoregeneradora reserva de lessers.
Porque Deus era testemunha de que havia muitos humanos com interesse e aptidões para o assassinato.
A balança simplesmente não se inclinava a favor da raça. Ele não podia evitar o fato de que os vampiros não viviam eternamente, que os irmãos podiam ser assassinados e que o equilíbrio podia quebrar-se em um instante a favor de seus inimigos.
Demônios, a mudança tinha começado. Desde que o Omega tinha criado a Sociedade Lessening fazia uma eternidade, o número de vampiros tinha diminuído de tal maneira que só ficavam uns quantos enclaves de população. Sua espécie beirava a extinção. Embora os irmãos fossem mortalmente bons no que faziam.
Se Wrath fosse outra classe de rei, como seu pai, que desejava ser o adorado e reverenciado por parte das famílias da espécie, talvez o futuro tivesse sido mais prometedor. Mas ele não era como seu pai. Wrath era um lutador, não um líder, se desenvolvia melhor com uma adaga na mão que sentado, sendo objeto de adoração.
Concentrou-se de novo nos irmãos. Quando os guerreiros lhe devolveram o olhar, notava-se que esperavam suas instruções. E aquela consideração o colocou nervoso.
— Tomei a morte do Darius como um ataque pessoal — disse.
Houve um surdo grunhido de aprovação entre seus companheiros.
Wrath tirou a carteira e o celular do membro da Sociedade Lessening que tinha matado.
— Tirei isto um lesser que tropeçou comigo nesta mesma noite atrás do Screamer'S. Quem quer fazer as honras?

Lançou-os ao ar. Phury pegou ambos os objetos e passou o telefone ao Vishous.
Wrath começou a caminhar de um lado a outro.
— Temos que sair de caçada de novo.
— Tem toda a razão — grunhiu Rhage. Houve um movimento metálico e logo o som de uma faca ao cravar-se em uma mesa. — Temos que prendê-los onde treinam, onde vivem.
O que significava que os irmãos teriam que fazer um reconhecimento do terreno. Os membros da Sociedade Lessening não eram estúpidos. Alteravam seu centro de operações com regularidade, mudando constantemente suas instalações de recrutamento e treinamento de um lugar a outro. Por este motivo, os guerreiros vampiros consideravam que era mais eficaz agir como chamarizes e lutar contra todo aquele que fosse atacá-los.
Ocasionalmente, a Irmandade tinha realizado algumas incursões, matando dúzias de lessers em uma só noite. Mas essa classe de tática ofensiva era rara. Os ataques a grande escala eram eficazes, mas também apresentavam algumas dificuldades. Os grandes combates atraíam à polícia, e tratar de passar inadvertidos era vital para todos.
— Aqui há uma carteira de motorista — murmurou Phury. — Investigarei a direção. É local.
— Qual é o nome? — perguntou Wrath. — — Robert Strauss.
Vishous soltou uma maldição enquanto examinava o telefone.
— Aqui não há muito. Só alguma coisa na memória de chamadas, umas marcações automáticas. Averiguarei no computador quem chamou e que números foram marcados.
Wrath chiou os dentes. A impaciência e a ira eram um coquetel difícil de digerir.
— Não preciso dizer a você para trabalhar o mais rápido possível. Não há maneira de saber se o lesser que eliminei esta noite foi o autor da morte de Darius, assim penso que temos que limpar completamente toda a zona. Terá que matá-los a todos, sem nos importar os problemas aos quais nos expomos.
A porta principal se abriu de repente, e Zsadist entrou na casa.
Wrath o olhou sardônico.
— Obrigado por vir, Z. Esteve muito ocupado com as fêmeas?
— Que tal se me deixasse em paz?
Zsadist se dirigiu a um canto e permaneceu afastado do resto.
— Onde vai estar você, meu senhor? — perguntou Tohrment suavemente.
O bom do Tohr. Sempre tratando de manter a paz, foi mudando de assunto, intervindo diretamente ou, simplesmente, pela força.
— Aqui. Permanecerei aqui. Se o lesser que matou Darius está vivo e interessado em jogar um pouco mais, quero estar disponível e fácil de encontrar.
Quando os guerreiros se foram, Wrath colocou a jaqueta. Deu-se conta então de que ainda não tinha aberto a carta de Darius, e a tirou do bolso. Havia uma faixa de tinta escrita nele. Wrath imaginou que se tratava de seu nome. Abriu o envelope. Enquanto tirava uma folha de papel cor creme, uma fotografia caiu revoando ao chão. Recolheu-a e teve a vaga impressão de que a imagem possuía um cabelo longo e negro. Uma fêmea.
Wrath olhou fixamente o papel. Era uma caligrafia contínua, um rabisco ininteligível e impreciso que não tinha esperança de decifrar, por muito que entreabrisse os olhos.
— Fritz! — chamou.
O mordomo chegou correndo.
— Lê isto.
Fritz tomou a folha e dobrou a cabeça. Leu em silêncio.
— Em voz alta! — rugiu Wrath.
— OH. Mil perdões, amo. — Fritz clareou a garganta. Se não tiver tempo de falar com você, Tohrment lhe proporcionará todos os detalhes. Avenida Redd, número 1188, apartamento 1 — B. Seu nome é Elizabeth Randall. Pós-escrito: A casa e Fritz são seus se ela não sobreviver à idade adulta. Lamento que o final tenha chegado tão logo D.
— Filho de cadela — murmurou Wrath.

1 comentários:

Mariana Linhares disse...

Gostaria de convidá-lo a participar do HBM, novo blog de medições da blogosfera. Este blog será diferente e vem pra ficar. Começa dia 1 e contamos com vc.
http://bloghbm.blogspot.com

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