Assim se exprimiu a Sra. Giry e depois se calou para julgar o efeito que havia produzido. A história de Poligny tinha feito Moncharmin balançar a cabeça.
— Nada disso me diz em que circunstâncias, nem como o fantasma da Ópera lhe pediu um banquinho? — insistiu ele, olhando fixamente para a Sra. Giry, como se diz, olho no olho.
— Então, foi desde aquela noite... porque, a partir daquela noite, deixaram ele em paz, nosso fantasma... não brigaram mais com ele por causa do camarote. Os Srs. Debienne e Poligny deram ordens para deixarem o camarote para ele em todas as representações. Então, quando ele chegava, me pedia o seu banquinho...
— Hã! hã! um fantasma que pede um banquinho? Então é uma mulher, o seu fantasma? — interrogou Moncharmin.
— Não, o fantasma é homem.
— Como é que a senhora sabe?
— Ele tem voz de homem, oh! uma voz suave de homem! Vejam como é que isso acontece: quando ele vem à Ópera, chega em geral lá pelo meio do primeiro ato, dá três pancadinhas secas na porta do camarote nº 5. Na primeira vez que eu ouvi essas três pancadas, quando sabia muito bem que não havia ainda ninguém no camarote, os senhores imaginam se eu não fiquei intrigada! Abro a porta, escuto, olho: ninguém! Depois não é que eu escuto uma voz me dizendo: “Sra. Jules (é o nome do meu falecido marido), um banquinho, por favor?” Salvo o respeito que eu lhe devo, Sr. diretor, fiquei que nem um tomate... Mas a voz continuou: “Não se assuste, Sra. Jules, sou eu, o fantasma da Ópera!!!” Olhei para o lado de onde vinha a voz, que era, aliás, tão boa, tão “acolhedora” que quase já não me dava mais medo. A voz, Sr. diretor, estava sentada na primeira poltrona da primeira fileira à direita. Só que eu não via ninguém na poltrona, podia-se jurar que tinha alguém em cima, que falava, e alguém muito educado, palavra.
— O camarote à direita do de nº 5 — perguntou Moncharmin, estava ocupado?
— Não; tanto o camarote nº 7 como o camarote nº 3 à esquerda não estavam ainda ocupados. O espetáculo ainda estava no comecinho.
— E o que foi que a senhora fez?
— Pois bem, eu trouxe o banquinho. Evidente, não era para ele que ele pedia o banquinho, era para a senhora dele! Mas ela, eu nunca vi nem ouvi...
O fantasma agora tinha uma mulher! Da Sra. Giry o duplo olhar de Moncharmin e Richard subiu até o inspetor que, atrás da lanterninha, agitava os braços para atrair sobre si a atenção de seus chefes. Ele bateu na testa com o indicador desolado para dar a entender aos diretores que a Sra. Jules estava por certo completamente maluca, pantomima que levou definitivamente o Sr. Richard a decidir livrar-se de um inspetor que mantinha em seu serviço uma louca. A boa mulher continuava, toda envolvida com o seu fantasma, a elogiar a sua generosidade.
— No fim do espetáculo, ele sempre me dá uma moeda de dois, quatro, às vezes até de dez francos, quando passou vários dias sem vir. Só que, desde que voltaram a aborrecê-lo, ele não me dá mais nada de nada...
— Desculpe, minha boa senhora... {Nova revolta da pluma do chapéu cor de fuligem diante de tão persistente familiaridade) desculpe!... Mas como é que o fantasma faz para lhe entregar o dinheiro? — interrogou Moncharmin, curioso de nascença
— Ele deixa em cima da mesinha do camarote, ora! Eu o encontro ali com o programa que sempre levo para ele; algumas noites, encontro até flores na minha saleta, uma rosa que terá caído do busto de sua dama... pois, certamente, ele deve vir, às vezes, com uma dama, para que possa ter esquecido, um dia, um leque.
— Ah! ah! o fantasma esqueceu um leque? E o que é que a senhora fez desse leque?
— Ora, eu devolvi para ele na vez seguinte. Aqui, ouviu-se a voz do inspetor:
— A senhora não observou o regulamento, Sra. Giry, tenho de puni-la por isso.
— Cale a boca, imbecil! (Voz de baixo de Firmin Richard.) Com que então a senhora devolveu o leque! E aí?
— E aí eles o levaram embora, Sr. diretor; não o encontrei mais no fim do espetáculo, prova é que eles deixaram no lugar uma caixa de bombons ingleses de que eu gosto tanto, Sr. diretor. E uma das gentilezas do fantasma...
— Está bem, Sra. Giry... A senhora pode se retirar. Quando a Sra. Giry, depois de cumprimentar respeitosamente, não sem certa dignidade que nunca a abandonava, os seus dois diretores, estes declararam ao inspetor que estavam decididos a se privar dos serviços daquela velha louca. E dispensaram o inspetor.
Quando o inspetor se retirou, depois de ter protestado a sua dedicação à casa, os diretores pediram ao administrador que fizesse as contas do inspetor. Quando ficaram sós, os diretores se comunicaram um mesmo pensamento, que lhes viera a ambos ao mesmo tempo, o de ir dar uma voltinha para os lados do camarote nº 5.
Logo os acompanharemos até lá.
Capitulo 21
quarta-feira, 2 de setembro de 2009Postado por Vladimir Ambrosine às 22:00
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