segunda-feira, 28 de setembro de 2009


Estávamos no centro de uma salinha de forma perfeitamente hexagonal, cujos seis painéis de paredes eram interiormente munidos de espelhos, de alto a baixo. Nos cantos, distinguiam-se muito bem as emendas de espelho... os pequenos setores destinados a girar sobre tambores... Sim, sim, eu os reconheço... e reconheço a árvore de ferro num canto, no fundo de um desses pequenos setores... a árvore de ferro, com o seu galho de ferro... para os enforcados.
Eu tinha pegado o braço do meu companheiro. O visconde de Chagny estava todo a tremer de excitação, pronto para gritar para a sua noiva o socorro que lhe trazia... Temi que ele não conseguisse se conter.
De repente, ouvimos um ruído à nossa esquerda.
Foi primeiro como uma porta que se abrisse e se fechasse, no cômodo ao lado, depois houve um gemido surdo. Segurei com mais força o braço do Sr. De Chagny, depois ouvimos distintamente estas palavras:
— E pegar ou largar! A missa de núpcias ou a missa de defuntos. Reconheci a voz do monstro.
Houve ainda um gemido.
Em seguida, um longo silêncio.

Estava persuadido, agora, de que o monstro ignorava a nossa presença em sua morada, pois, se não fosse assim, teria dado um jeito para que não o ouvíssemos. Bastaria, para isso, que fechasse hermeticamente a janelinha invisível pela qual os amantes dos suplícios olham para dentro do quarto de suplícios.
Depois, eu estava certo de que se ele soubesse da nossa presença os suplícios teriam começado imediatamente.
Tínhamos, pois, uma grande vantagem sobre Erik: estávamos ao seu lado e ele não sabia de nada.
O importante era não deixá-lo saber, e eu não temia nada quanto o impulso do visconde de Chagny, que queria se atirar através das paredes para se juntar a Christine Daaé, que, em intervalos, acreditávamos ouvir gemer.
— A missa de defuntos não é nada alegre! — disse Erik —, ao passo que a missa de núpcias é magnífica! É preciso tomar uma decisão e saber o que se quer! Para mim, é impossível continuar a viver assim, no fundo da terra, num buraco, como uma toupeira! Don Juan triunfante está terminado, agora eu quero viver como toda gente. Quero ter uma mulher como toda gente e iremos passear aos domingos. Inventei uma máscara que me faz ficar com o rosto de qualquer um. Não vão nem virar para trás. Você será a mais feliz das mulheres. E cantaremos só para nós, até morrer. Você está chorando? Tem medo de mim? No fundo, entretanto, eu não sou mau! Ame-me e verá! Só me faltou ser amado para ser bom! Se você me amasse, eu seria doce como um cordeiro e você faria de mim o que quisesse.
Logo o gemido que acompanhava essa espécie de ladainha de amor aumentou. Nunca ouvi nada mais desesperado, e o Sr. De Chagny e eu reconhecemos que esse espantoso lamento pertencia ao próprio Erik. Quanto a Christine, devia, em algum lugar, talvez do outro lado da parede que tínhamos à nossa frente, permanecer muda de horror, não tendo mais forças para gritar, com o monstro aos seus pés.
Esse lamento era tonitruante como a queixa de um oceano. Por três vezes Erik arrancou da garganta esta queixa do rochedo.
— Você não me ama! Você não me ama! Você não me ama! Depois, abrandou-se:
— Por que está chorando? Você sabe muito bem que me deixa magoado.
Silêncio.
Cada silêncio, para nós, era uma esperança. Dizíamos a nós mesmos: “Quem sabe ele deixou Christine atrás da parede”.
Só pensávamos na possibilidade de avisar Christine Daaé de nossa presença sem que o monstro desconfiasse.
Agora só podíamos sair do quarto dos suplícios se Christine nos abrisse a porta; e era essa a condição primeira para podermos socorrê-la, pois ignorávamos até o lugar em torno de nós onde estava a porta.
De repente, o silêncio ao lado foi quebrado pelo barulho de uma campainha.
Houve um salto do outro lado da parede e a voz de trovão de Erik:
— Estão tocando! Queira dar-se ao trabalho de entrar! Uma risada lúgubre.
— Quem mais está chegando para nos atrapalhar? Espere aqui um pouco... vou dizer à sereia para abrir.
E passos se afastaram, uma porta se fechou. Não tive tempo de pensar no novo horror que se preparava; esqueci que o monstro só saía para um novo crime talvez; só compreendi uma coisa: Christine estava sozinha do outro lado da parede!
O visconde de Chagny já a chamava:
— Christine! Christine!
Uma vez que estávamos ouvindo o que se dizia no cômodo ao lado, não havia nenhuma razão para que o meu companheiro não fosse ouvido por sua vez. E, no entanto, o visconde teve de repetir várias vezes o seu chamado.
Finalmente, uma voz fraca chegou até nós.
— Estou sonhando — dizia.
— Christine! Christine! Sou eu, Raoul! Silêncio.
— Mas responda, Christine!... se você está sozinha, em nome de Deus, responda.
Então a voz de Christine murmurou o nome de Raoul.
— Sim! Sim! Sou eu! Não é um sonho!... Christine, tenha confiança!... Estamos aqui para salvá-la... Mas nenhuma imprudência!... Quando você ouvir o monstro, avise-nos.
— Raoul! Raoul!
Ela quis que lhe repetisse várias vezes que não estava sonhando e que Raoul de Chagny conseguira vir até ela, conduzido por um companheiro dedicado que conhecia o segredo da morada de Erik.
Mas, brevemente, à muito fugaz alegria que lhe trazíamos sucedeu um terror maior. Ela queria que Raoul se afastasse imediatamente. Tremia de medo de que Erik descobrisse o seu esconderijo pois, nesse caso, ele não hesitaria em matar o rapaz. Informou-nos em poucas palavras que Erik tinha ficado totalmente louco de amor e estava decidido a matar todo mundo e a si mesmo, se ela não consentisse em se tornar sua mulher diante do juiz e do vigário da igreja da Madeleine. Ele lhe tinha dado até o dia seguinte às 11 horas da noite para pensar. Era o último prazo. Era preciso então escolher, como ele dizia, entre a missa de núpcias e a missa de defuntos!
E Erik pronunciara esta frase que Christine não tinha entendido muito bem: “Sim ou não; se for não, todo mundo está morto e enterrado!”
Mas eu, sim, entendi bem a frase, pois ela correspondia de maneira terrível ao meu pensamento temível.
— Poderia nos dizer onde está Erik? — perguntei. Ela respondeu que ele devia ter saído da morada.
— Você poderia certificar-se disso?
— Não!... Estou amarrada... não posso fazer nenhum movimento.
Ao ouvir isso, o Sr. De Chagny e eu não pudemos reter um grito de raiva. Nossa salvação, dos três, dependia da liberdade de movimentos da moça.
— Oh! libertá-la! Chegar até ela!
— Mas onde é que você está? — perguntou ainda Christine... Existem duas portas no meu quarto: o quarto Louis Philippe, de que lhe falei, Raoul!... uma porta por onde Erik entra e sai, e outra que nunca foi aberta na minha frente e pela qual ele me proibiu de jamais passar, porque é a mais perigosa das portas... a porta dos suplícios!...
— Christine, estamos atrás dessa porta!...
— Estão no quarto dos suplícios?
— Estamos, mas não vemos a porta.
— Ah! se eu pudesse pelo menos me arrastar até ela!... Eu bateria na porta e vocês veriam o lugar exato da porta.
— É uma porta com uma fechadura? — perguntei.
— É, com uma fechadura.
Pensei: “Ela se abre do outro lado com uma chave, como todas as portas, mas do nosso lado ela se abre com a mola e o contrapeso, e isso não vai ser fácil de descobrir”.
— Christine! — disse —, é absolutamente necessário que nos abra essa porta.
— Mas como? — respondeu a voz chorosa da infeliz. Ouvimos um corpo que tentava com toda evidência se livrar das amarras que o aprisionavam...
— A única saída para nós é a astúcia — disse eu. — Precisamos ter a chave dessa porta...
— Sei onde ela está — respondeu Christine que parecia esgotada pelo esforço que acabara de fazer. — Mas continuo amarrada!... Aquele miserável!...
E houve um suspiro.
— Onde está a chave? — perguntei, ordenando ao Sr. De Chagny que se calasse e me deixasse conduzir a ação, pois não tínhamos tempo a perder.
Ultimas semanas

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