Quarto capitulo de Gritos da Liberdade

sábado, 15 de agosto de 2009

Mas essa é a realidade, Sofia.
Devemos continuar a questionar...
Por que eles têm que ser mortos. Disse Marx com pesar nas palavras

Ela arregalou os olhos, assustada
Ser...
Mortos
?


Choro de criança


Uma criança está chorando dentro de mim!
Uma criança que eu tinha ignorado e esquecido
Alex estava sentado no canto de seu apartamento, não tinha sofá, cadeira ou mesa, apenas uma cama de solteiro baixa no quarto estreito. Alguém batia na porta com certo desespero, abriu os olhos assustado, pensou quem deveria ser naquelas horas, se não fizesse parte da Juventude Hitlerista, com certeza seria os soldados de Hitler atrás dele, mas ele não tinha esse problema, não agora! Era fiel ao regime nazista.
As batidas na portas continuavam insistentemente.
Sim, já vou! Já estou abrindo!
Seus olhos se espantaram, uma moça de cabelos pretos, olhos mortos e a cabeça baixa, usavam um casaco cinza e roupas por baixo brancos.
Sofia, o que aconteceu? O que você faz aqui essa hora? Ele perguntou com uma voz firme e protetora!
Ela de repente deu um salto em seu corpo, o abraçando forte e levando a cabeça ao seu peito como se quisesse a força um com consolo. Ele agarrou naquele momento, não entendendo o que tava acontecendo, apenas deixou que ela desabasse todo seu peso nele.
Alec, do que você gosta de mim? Ela perguntou
Estavam agora sentados no chão do canto da pequena sala do apartamento,ele estava com os seus braços em volta do pescoço dela, ela sentada ao seu lado com os joelhos dobrados e agarrava a gola da camisa dele e soluçava.
Quando estou com você, posso esquecer os pensamentos incômodos. Então...Isso significa que nós somos dois covardes. – ela disse com uma voz firme, mas com pesar triste
Ele se afastou alguns centímetros dela, levou sua mão esquerda até a costa dela e a outra mão no braço e a apertou, olhou para ela.
Estamos juntos apenas pela comodidade recíproca. – ela disse
- o que você tem Sofia?
Ela levantou seu rosto e o olhou nos olhos
O que aconteceu com Rosa? Ela perguntou
Hã? Ele tentou desviar seus olhos do dela, mas ela o encara de um jeito que ele não conseguia fugir da pergunta.
Uma amiga minha. Você não se lembra dela?
Foi levada embora, uma judia que naquele dia foi levada embora.
A imagem veio em sua mente, a rosa, uma menina graciosa, um rosto tão bonito.
Ele levantou e saiu de perto de Sofia, pôs as mãos no bolso.
Alec..?
É verdade que eles são mortos? Que são jogados nos campos de concentração e extermina com veneno ou então... ela relutou em falar um pouco, a voz agora estava pesada. E então... morrem de fome? Ele abaixou sua cabeça e fechou os olhos.
Você deve saber! Você faz parte da Juventude Hitlerista, não?
Ele virou - se rápido para ela
JÁ TE DISSE QUE NÂO SEI!
Ele gritou
Olhou a nos olhos e com a voz agora mais baixa, mas ainda com raiva
- sei apenas que ficam fechados nos campos de concentração! Essa é a única maneira de organizar os judeus que eu conheço!
- Organizar? Você fala como se eles fossem objetos... não temos nenhum motivo para odiá-los... disse Sofia com as mãos tremendo!
- Cala a boca! Eu tenho um motivo sim! Foram eles que mataram meus pais! Ele disse gritando novamente. Olhou para cima, no teto e arregalou os olhos, puxou as lembranças, enfrentando as feridas, trazendo as de volta!
Meus pais tinham uma pequena mercearia. Mas meu pai contraiu uma dívida com um judeu rico. Os juros eram altos, mas a data combinada para a restituição ainda estava longe. Mesmo assim, um dia aquele homem apareceu de repente... e levou tudo embora como garantia de pagamento. Ele fez isso porque o dinheiro lhe daria comodidade no exterior...depois que fugisse da Alemanha. E por isso ele arrancou do meu pai a sua pequena mercearia... meu pai tentou Pará-lo, começou uma briga, mas acabou com os olhos machucados.
Um dia voltando da escola...
A imagem vinha em sua cabeça, dois pés nas alturas,arregalou os olhos
- um dia voltando da escola... o encontrei enforcado
Ele estava no campo atrás da casa em que vivíamos provisoriamente... balançava acompanhando o vento, pendendo de uma arvore. Era como um estranho fruto negro, todo inchado, balançava para a esquerda e para a direita. O peso do cadáver fazia o galho da arvore ranger.
Quando minha mãe o viu, soltou um grito e caiu no chão. Não se levantou mais.
As lembranças, ele agarrava sua mãe pedindo que voltasse, seu corpo mole, seus cabelos longos
Ela já estava fraca... e quem? E quem é o responsável?! E por isso não agüentou a dor.
A culpa é deles! Disse Alex, a voz estava enfraquecida, seus rostos parados, seus olhos fixados nas imagens do seu pesadelo de todas as noites, agora estavam mais vivos, pois ele não tentou esconder cada detalhe, não impediu de ver.
Sofia o encarava com um olhar de pena ao mesmo tempo assustada!

Morte a todos os judeus! Eu os odiarei por tida minha vida! Ele gritou de novo, seus olhos lacrimejando!
- droga...! Por que você me fez dizer uma coisa dessas... Na sua frente! Ele disse

Tudo estava branco, ele estava no chão ajoelhado, sua cabeça estava baixa
Eu podia me contentar fingindo estar feliz com você... Disse com a sua voz enfraquecida
Levou sua cabeça aos joelhos e suas mãos em voltas das pernas.
Sofia continuava o olhando, viu quando um homem cai em dor, a degradação da alma dolorida em sua frente, o quão despedaçado fica um homem quando é ferido!
Ela apertou a tranca da porta, girou e abriu
- Sofia, ele a chamou
O dia... O dia em que nós nos conhecemos... Foi meu ultimo momento de felicidade... Antes que eu me transformasse no que sou agora. Antes que meus pais fossem mortos...
Por isso que eu me lembrava de você... Essa é a verdade... Juro que é a verdade. Ele disse ainda sentado no canto, praticamente caído no chão! Ela olhou em sua costa e saiu sem dizer nada.
O vento estava forte – alguns gritos vinham da rua – Deve ser aqui! Procure bem! Dizia o que parecia ser o responsável pela operação caçar aos judeus!
Sofia viu que uma família estava sendo retirada de seu lar, uma mulher com o chapéu na cabeça, um homem assustado e um garotinho que ameaçava chorar.
- Lá estão eles! São os judeus! Vamos levá-los! Dizia o comandante da operação
- Apenas uma mala por pessoa – continuava o homem – vão imediatamente para o caminhão! Dava as ordens.
Sofia observava cada movimento, olhava as casas sendo invadidas,os lares sendo destruídos, ela tentou imaginar se os judeus sabiam que estavam sendo levados para morrerem, que estavam sendo condenados, que iriam morrer de uma forma tão cruel. Seus olhos tinham lágrimas, abaixou a cabeça e apertou as mãos!
Alex continuava parado no canto com as mãos em volta de suas pernas e a cabeça escondida nelas. Em sua mente vinham imagens, o rosto de Sofia alegre
Sofia, Sofia!

Ah...! - ele soluçou
Sofia ainda continuava andar na rua com passos lentos e
Seus pensamentos voavam rapidamente
Uma criança está chorando dentro de mim!
Uma criança que eu tinha ignorado e esquecido
Será que sou eu que estou chorando?
Ou Alec?
Está voando para longe!
Lá naquela direção!

Gritos são ouvidos, o jardim, Rosa, Sofia e Alec estavam juntos!

Um pássaro morto não voa mais. Não pode mais voar.






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