"O Fantasma da Ópera' 14° Capitulo
segunda-feira, 24 de agosto de 2009As bailarinazinhas têm razão — disse ele. — A morte do pobre Buquet pode não ser tão natural como se crê.
Debienne e Poligny tiveram um sobressalto.
— Buquet morreu? — exclamaram.
— Morreu — replicou tranqüilamente o homem ou a sombra de homem. — Encontraram-no enforcado, hoje à tarde, no terceiro patamar inferior, entre um suporte e um cenário do Rei de Labore.
Os diretores, ou melhor, ex-diretores, levantaram-se imediatamente, fixando estranhamente o interlocutor. Eles estavam mais agitados do que o razoável, isto é, mais do que é razoável ficar agitado pelo anúncio do enforcamento de um chefe maquinista. Ambos se olharam. Tinham ficado mais pálidos do que a toalha. Finalmente, Debienne fez um sinal aos Srs. Richard e Moncharmin: Poligny dirigiu aos convivas algumas palavras de desculpas, e os quatro passaram ao escritório da diretoria. Passo a palavra a Moncharmin.
"Os Srs. Debienne e Poligny pareciam cada vez mais agitados", conta ele em suas memórias, "e pareceram ter alguma coisa para nos dizer que os embaraçava muito. Primeiro, perguntaram-nos se conhecíamos o indivíduo sentado à cabeceira da mesa, que lhes havia dado a notícia da morte de Joseph Buquet, e, como respondêssemos negativamente, mostraram-se ainda mais perturbados. Tomaram as gazuas de nossas mãos, observaram-nas por um instante, balançaram a cabeça, depois aconselharam-nos que fizéssemos outras fechaduras, no maior segredo, para os apartamentos, gabinetes e objetos que desejássemos fechar hermeticamente. Eles pareciam tão estranhos ao dizer isso que nos pusemos a rir, perguntando-lhes se havia ladrões na Ópera. Responderam que havia algo pior que era o fantasma. Começamos a rir de novo, convencidos de que estavam fazendo alguma pilhéria que seria como que o coroamento daquela festinha íntima. E depois, a pedido deles, voltamos a ficar ‘sérios’, decididos a entrar naquela espécie de jogo, para lhes agradar. Disseram-nos que jamais nos teriam falado do fantasma se não tivessem recebido ordem formal do próprio fantasma para nos empenhar em sermos amáveis com ele e em conceder-lhe tudo que nos pedisse. Todavia, felizes demais por deixar um espaço em que reinava soberana essa sombra tirânica e por ficarem, pelo fato mesmo, livres dela, tinham hesitado até o último instante em comunicar tão curiosa aventura para a qual certamente os nossos espíritos cépticos não estavam preparados, quando o anúncio da morte de Joseph Buquet lhes havia brutalmente lembrado que, cada vez que não obedeciam aos desejos do fantasma, algum acontecimento fantástico e funesto vinha rapidamente trazê-los de volta ao sentimento de sua dependência.
"Durante esses pronunciamentos inesperados, feitos em tom da mais secreta e importante confidência, eu ficava olhando para Richard. Richard, no tempo em que era estudante, tivera a reputação de ser um farsante, isto é, não ignorava nenhuma das mil e uma maneiras que se tem de zombar uns dos outros, e as zeladoras dos prédios do Boulevard Saint-Michel tiveram o seu quinhão nessa história. Assim, ele parecia estar gostando muito do prato que lhe serviam agora. Não perdia um bocado, embora o condimento fosse um pouco forte devido à morte de Buquet. Ele meneava a cabeça com tristeza, e suas feições, à medida que os outros falavam, iam ficando lamentáveis, como as de um homem que se arrependesse amargamente ter-se metido nesse negócio da Ópera, agora que tomava conhecimento de que havia um fantasma lá dentro. O melhor que eu podia fazer era copiar servilmente essa atitude desesperada. Entretanto, apesar de todos os nossos esforços, não pudemos, ao final, nos impedir de deixar escapar uma "explosão" de riso nas barbas dos Srs. Debienne e Poligny que, vendo-nos passar sem transição do mais sombrio estado de espírito à mais insolente alegria, procederam como se acreditassem que tínhamos ficado loucos.
"Como a farsa se prolongasse um pouco demais, Richard perguntou, entre sério e brincalhão: — Afinal, o que quer esse seu fantasma?
Postado por Blog às 22:00
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