Capitulo 19

segunda-feira, 31 de agosto de 2009


O inspetor, para agradar ao Sr. Moncharmin que estava sorrindo, achou que devia também sorrir. Sorriso infeliz! O olhar do Sr. Richard fulminou o empregado, que de imediato fez por mostrar um semblante horrivelmente consternado.
— Enfim, quando essa gente chegou — perguntou vociferando o terrível Richard —, não havia ninguém no camarote?
— Ninguém, senhor diretor! ninguém! nem no camarote da direita, nem no camarote da esquerda, ninguém, eu lhe juro! ponho a minha mão no fogo! e é isso o que prova que tudo não passa de uma brincadeira.
— E a lanterninha, o que foi que ela disse?
— Oh! para a lanterninha, é muito simples, ela disse que foi o fantasma da Ópera.
E o inspetor deu um sorriso amarelo. Ainda assim compreendeu que fazia mal de sorrir, pois nem bem tinha pronunciado “Ela disse que foi o fantasma da Ópera!” e a fisionomia do Sr. Richard, de sombria que estava, passou a brava.
— Mandem me buscar a lanterninha! — ordenou ele... — Imediatamente! E que ela me seja trazida aqui! E que se ponha toda essa gente aí para fora!
O inspetor quis protestar, mas Richard lhe fechou a boca com um temível “Cale-se!” Depois, quando os lábios do infeliz subordinado pareceram fechados para sempre, o diretor ordenou que se abrissem de novo.
— O que é que é o “fantasma da Ópera”? — decidiu perguntar com um grunhido.
Mas o inspetor agora era incapaz de dizer palavra. Deu a entender por uma mímica desesperada que não sabia de nada, ou melhor, que não queria saber de nada.
— Você viu, você, o fantasma da Ópera?
Com um gesto enérgico de cabeça, o inspetor negou tê-lo visto.
— Azar! — declarou friamente Richard.
O inspetor arregalou enormemente os olhos, olhos que lhe saíam das órbitas, para perguntar por que o diretor havia pronunciado aquele sinistro : “Azar!”
— Porque eu vou mandar fazer as contas de todos aqueles que não o viram! — explicou o diretor. — Já que ele está por toda parte, não é admissível que não o vejam em lugar nenhum. Gosto que as pessoas façam o seu serviço!





SEQÜÊNCIA DO CAMAROTE Nº 5


Tendo dito aquelas palavras, o Sr. Richard não mais deu atenção ao inspetor e tratou de diversos expedientes com o seu administrador que acabava de entrar. O inspetor pensou que podia ir-se embora e bem devagarinho, devagarinho, oh! meu Deus! tão devagarinho!... caminhando para trás, tinha se aproximado da porta, quando Richard, percebendo a manobra, pregou o homem no lugar com um tonitruante “Não se mexa!”
Por iniciativa do Sr. Rémy, tinham ido buscar a lanterninha, que trabalhava de zeladora na rua de Provence, a dez passos da Ópera. Logo ela apareceu.
“Como é que a senhora se chama?
— Sra. Giry. O senhor me conhece bem, senhor diretor; sou eu a mãe da pequena Giry, da pequena Meg, enfim!
Isso foi dito em tom rude e solene que impressionou por um instante o Sr. Richard. Ele olhou para a Sra. Giry (xale desbotado, sapatos gastos, vestido velho de tafetá, chapéu cor de fuligem). Era evidente, pela atitude do diretor, que este não conhecia ou não se lembrava de ter conhecido a Sra. Giry, nem tampouco a pequena Giry, “nem sequer a pequena Meg”! Mas o orgulho da Sra. Giry era tamanho que essa célebre lanterninha (creio mesmo que foi a partir do nome dela que se fez o nome bem conhecido na gíria dos bastidores: “giries”. Exemplo: uma artista recrimina uma colega por suas fofocas, seus papos-furados; ela lhe dirá: “Tudo isso são ‘giries’ “), que essa lanterninha, dizíamos, se achava conhecida por todo mundo.
— Não a conheço não! — acabou por proclamar o diretor — Mas, Sra. Giry, isso não impede que eu queira saber o que lhe aconteceu ontem à noite, para que a senhora tenha sido forçada, a senhora e o inspetor, a recorrer a um guarda municipal...

0 comentários:

;

Gente que faz o OIFTV:

Felipe Silva -Administrador geral do Blog

Rafael Zimbrão - Autor de Webs series e Webs novelas

Paulo Victor Alexandre - Colunista