"O Fantasma da Ópera" 16° Capitulo

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Adaptado do livro Fantasma da Opera
Por Rafael Zimbrão
Capitulo 16




“— Evidentemente”, replicou sem pestanejar Poligny, “240 mil não se acham debaixo da ferradura de um cavalo. E os senhores se deram conta do que pode nos custar a não locação do primeiro camarote nº 5 reservado para o fantasma em todas as representações? Sem mencionar que tivemos de reembolsar o assinante, é assustador! Realmente, nós não trabalhamos para sustentar fantasmas!... Preferimos ir-nos embora!
“— Sim — repetiu Debienne —, preferimos ir-nos embora! Vamos embora!
“E levantou-se.
“Richard disse:
“— Mas afinal, a mim parece que os senhores são bem bonzinhos com esse fantasma. Se eu tivesse um fantasma que incomodasse tanto assim, eu não hesitaria em mandá-lo prender...
“— Sim, mas onde? Mas como? — clamaram em coro os ex-diretores — Nós nunca o vimos!
“— E quando ele vem ao seu camarote?
“— Nós nunca o vimos em seu camarote.
“— Então aluguem-no.
“— Alugar o camarote do fantasma da Ópera! Pois bem, experimentem!
“Depois disso, saímos os quatro do gabinete da direção. Richard e eu nunca tínhamos rido tanto.”







O CAMAROTE Nº 5

Armand Moncharmin escreveu relatórios tão volumosos que, no que concerne particularmente ao período de sua co-direção, tem-se o direito de perguntar se algum dia encontrou tempo para cuidar da Ópera de outro jeito que não fosse contando o que lá acontecia. Moncharmin não conhecia uma nota de música, mas, com a maior intimidade, tratava de “você” o ministro da Instrução Pública e das Belas-Artes, havia feito um pouco de jornalismo sobre espetáculos e gozava de uma fortuna assaz importante. Enfim, era um rapaz encantador a quem não faltava inteligência; tomada a decisão de comanditar a Ópera, tinha sabido escolher aquele que dela seria o diretor útil e tinha ido diretamente a Firmin Richard.
Firmin Richard era um músico de projeção e um homem galante. Eis o retrato que dele traça, no dia de sua tomada de posse, a Revue des Théâtres:



O Sr. Firmin Richard tem seus 50 anos, é alto, de compleição robusta, sem excesso de peso. Tem prestância e distinção, uma bela cor, cabelos plantados rijos, um pouco baixos e cortados em escova, barba combinando com os cabelos, o aspecto da fisionomia tem algo de um pouco triste a que tempera logo um olhar franco e reto unido a um sorriso encantador. O Sr. Firmin Richard é um músico muito distinto. Hábil harmonista, contrapontista competente, a grandeza é a principal característica de sua composição. Publicou música de câmara muito apreciada pelos aficionados, música para piano, sonatas ou fugas cheias de originalidade, uma coletânea de melodias. Enfim La mort d’Hercule (A morte de Hércules), executada nos concertos do Conservatório, respira um ar épico que faz pensar em Gluck, um dos mestres venerados do Sr. Firmin Richard. Todavia, se adora Gluck, não tem menos amor por Piccini; o Sr. Richard toma o prazer onde o encontra. Cheio de admiração por Piccini, inclina-se diante de Meyerbeer, deleita-se com Cimarosa e ninguém aprecia melhor do que ele o inimitável gênio de Weber. Enfim, no que diz respeito a Wagner, o Sr. Richard não está longe de pretender que é ele, Richard, o primeiro na França e talvez o único a tê-lo compreendido.



Paro aqui a minha citação, da qual parece-me resultar bastante claramente que, se Firmin Richard amava praticamente toda a música e todos os músicos, era dever de todos os músicos gostar também dele. Digamos, para terminar este rápido retrato, que o Sr. Richard era o que se convencionou chamar autoritário, isto é, tinha um péssimo temperamento.
Os primeiros dias que os dois associados passaram na Ópera foram só de alegria por se sentirem senhores de tão vasta e bela empresa e tinham certamente esquecido essa curiosa e estranha história do fantasma quando aconteceu um incidente que lhes provou que — se havia farsa — a farsa não tinha terminado.
Firmin Richard chegou naquela manhã às 11 horas ao seu gabinete. O seu secretário, Sr. Rémy, mostrou-lhe meia dúzia de cartas que ele não tinha aberto por trazerem a menção “pessoal”. Uma dessas cartas chamou de imediato a atenção de Richard não apenas porque a subscrição do envelope estava em vermelho, mas também porque pareceu-lhe já ter visto aquela letra em algum lugar. Não precisou procurar muito: era a letra vermelha com que tinha sido completado tão estranhamente o caderno de encargos. Reconheceu-lhe o desenho irregular e infantil. Abriu-a e leu:

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