"O Fantasma da Ópera"
terça-feira, 18 de agosto de 2009O conde, retardando de alguns minutos a visita que devia fazer a Sorelli, seguia, pois, a galeria que conduz ao camarim de Christine e se dava conta de que esse corredor nunca tinha sido tão freqüentado como nessa noite, quando todo o teatro estava em polvorosa devido ao sucesso da artista, e também do seu desmaio. Porque a bela menina ainda não havia voltado a si, e tinham ido buscar o médico do teatro, que nesse momento chegou, empurrando os grupos e seguido de perto por Raoul, que lhe andava nos calcanhares.
Assim, o médico e o enamorado se viram no mesmo instante ao lado de Christine, que recebeu os primeiros socorros de um e abriu os olhos nos braços do outro. O conde tinha ficado, com muitos outros, na soleira da porta diante da qual se sufocava.
— O senhor não acha, doutor, que esses senhores deveriam "desentulhar" um pouco o camarim? — perguntou Raoul com incrível audácia. — Não se pode mais nem respirar aqui.
— Ora, o senhor tem toda a razão — aquiesceu o médico e pôs todo mundo para fora da porta, com exceção de Raoul e da camareira.
Esta olhava para Raoul com olhos arregalados pela mais sincera estupefação. Nunca o tinha visto antes.
Não ousou, no entanto, questioná-lo.
E o médico imaginou que, se o jovem agia assim, era evidentemente porque tinha esse direito. Tanto que o visconde permaneceu no camarim a contemplar Christine que renascia para a vida, enquanto os dois diretores, os próprios Srs. Debienne e Poligny, que tinham vindo exprimir a admiração pela sua jovem pensionista, foram rechaçados para o corredor. O conde de Chagny, rechaçado como os outros, ria às gargalhadas.
— Ah! esse malandrinho! Ah! esse malandrinho! E acrescentava in petto: — Vão confiar nesses mancebos que tomam ares de donzelas! — Estava radiante. Em seguida concluiu: — É um Chagny! — e se dirigiu ao camarim de Sorelli; mas esta descia para o pavilhão com o seu pequeno rebanho tremendo de medo, e o conde encontrou-a a caminho, como foi dito.
No camarim, Christine Daaé deu um suspiro profundo ao qual respondeu um gemido. Ela virou a cabeça, viu Raoul e estremeceu. Olhou para o doutor e lhe sorriu, depois para a camareira, depois de novo para Raoul.
— Meu senhor! — perguntou ela a este último, com uma voz que ainda não passava de um sopro — ... quem é o senhor?
— Senhorita — respondeu o jovem que colocou um joelho no chão e deu um ardente beijo na mão da diva —, senhorita, eu sou aquele menino que foi recolher a sua echarpe no mar.
Christine olhou de novo para o médico e para a camareira e os três puseram-se a rir. Raoul ergueu-se todo vermelho.
—- Senhorita, já que lhe apraz não me reconhecer, eu queria lhe dizer algo em particular, algo muito importante.
— Quando eu estiver melhor, meu senhor, importa-se? — e a voz dela tremia. — O senhor é muito gentil...
— É preciso que o senhor saia... — acrescentou o médico com o mais amável de seus sorrisos. — Deixe-me cuidar da senhorita.
— Eu não estou doente — replicou de repente Christine com uma energia tão estranha quanto inesperada. E levantou-se, passando a mão sobre as pálpebras num gesto rápido. — Agradeço-lhe, doutor!... Preciso ficar sozinha... Saiam todos! Eu lhes rogo, deixem-me... Estou muito nervosa esta noite...
O médico quis externar alguns protestos, mas diante da agitação da jovem estimou que o melhor remédio para semelhante estado consistia em não contrariá-la. E saiu com Raoul, que se viu no corredor, desarvorado. O médico lhe disse:
— Não a estou reconhecendo esta noite... Geralmente ela é tão meiga...
E o deixou.
Postado por Blog às 22:00
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