Capitulo 3
Adaptado do livro Fantasma da Opera
Por Rafael Zimbrão
Esse tenente do corpo de bombeiros chamava-se Papin.
O corpo de baile ficou consternado. Primeiro essa cabeça de fogo não correspondia absolutamente à descrição que Joseph Buquet dera do fantasma. Fizeram-se muitas perguntas ao bombeiro, interrogou-se de novo o maquinista-chefe, depois do que as moças ficaram persuadidas de que o fantasma tinha várias cabeças que trocava conforme queria. Naturalmente, elas imaginaram que corriam os maiores riscos. Do momento em que um tenente do corpo de bombeiros não hesitava em desmaiar, coriféias e coristas bisonhas — "ratinhos" na gíria da Ópera — podiam invocar bastantes desculpas para o terror que as fazia fugir com toda a força de suas patinhas quando passavam diante de algum buraco escuro de um corredor mal-iluminado.
Tanto assim que, para proteger, na medida do possível, o monumento entregue a tão horríveis malefícios, a própria Sorelli, cercada de todas as bailarinas e seguida até pela meninada das classes iniciais em roupa de malha, havia colocado — no dia seguinte ao da história do bombeiro —, sobre a mesa que se encontra no Vestíbulo do porteiro, do lado do pátio da administração, uma ferradura que qualquer pessoa que penetrasse na Ópera, a qualquer título que não fosse o de espectador, devia tocar com a mão antes de colocar o pé no primeiro degrau da escada. E isso sob pena de se tornar a vítima do poder oculto que se tinha apossado do edifício, dos porões ao sótão!
Essa ferradura, como aliás toda esta história, não a inventei, infelizmente, e ainda hoje se pode vê-la em cima da mesa do vestíbulo, na portaria, quando se entra na Ópera pelo pátio da administração.
Aí estão alguns elementos que dão rapidamente uma idéia do estado de alma daquelas moças, no dia em que penetramos com elas no camarim de Sorelli.
— E o fantasma! — gritara pois a pequena Jammes.
E a inquietação das bailarinas só havia crescido. Agora um silêncio angustiante reinava no camarim. Só se ouvia o ruído das respirações ofegantes. Enfim, tendo Jammes se lançado, com as marcas de um sincero pavor, até o canto mais recuado da muralha, murmurou esta única palavra:
— Escutem!
Parecia a todos, de fato, que um roçar se fazia ouvir atrás da porta. Nenhum ruído de passos. Dir-se-ia de uma seda ligeira que escorregasse sobre um painel. Depois, mais nada. Sorelli tentou mostrar-se menos pusilânime do que as suas companheiras. Avançou rumo à porta e perguntou com voz trêmula:
— Quem está aí?
Mas ninguém respondeu.
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