Capitulo 13
Adaptado do livro Fantasma da Opera
Por Rafael Zimbrão
Os Srs. Debienne e Poligny já tinham entregue aos Srs. Armand Moncharmin e Firmin Richard as duas chaves minúsculas, as gazuas que abriam todas as portas da Academia Nacional de Música — vários milhares. E celeremente essas chavinhas, objeto da curiosidade geral, passavam de mão em mão quando a atenção de alguns foi desviada para a descoberta que acabavam de fazer, na extremidade da mesa, daquela estranha, pálida e fantástica figura de olhos cavos que já aparecera no pavilhão da dança e que fora saudada pela pequena Jammes com esta apóstrofe: "O fantasma da Ópera!"
Ele estava ali, como o mais natural dos convivas, exceto que não comia nem bebia.
Os que tinham começado a olhar para ele a sorrir acabaram por desviar a cabeça, tanto essa visão conduzia a mente para os mais fúnebres pensamentos. Ninguém recomeçou a brincadeira do pavilhão, ninguém gritou: "Olhem o fantasma da Ópera!"
Ele não tinha pronunciado uma única palavra e mesmo os seus vizinhos não saberiam dizer em que momento preciso ele viera sentar-se ali, mas nenhum pensou que, se os mortos viessem um dia sentar-se à mesa dos vivos, não conseguiriam mostrar cara mais macabra do que aquela. Os amigos dos Srs. Firmin Richard e Armand Moncharmin pensaram que esse conviva descarnado fosse alguém íntimo dos Srs. Debienne e Poligny, enquanto os amigos dos Srs. Debienne e Poligny pensaram que esse cadáver pertencesse à clientela dos Srs. Richard e Moncharmin. De tal maneira que nenhum pedido de explicação, nenhuma reflexão desagradável, nenhuma facécia de mau gosto ameaçou importunar esse hóspede de além-túmulo. Alguns convivas que estavam a par da lenda do fantasma e que conheciam a descrição que dele tinha feito o chefe dos maquinistas — ignoravam a morte de Joseph Buquet — achavam in petto que o homem na ponta da mesa poderia muito bem passar pela realização viva da personagem criada, segundo eles, pela irremovível superstição do pessoal da Ópera; e, no entanto, segundo a lenda, o fantasma não tinha nariz e essa personagem tinha, mas o Sr. Moncharmin afirma em suas "memórias" que o nariz do conviva era transparente. "O nariz dele", diz, "era longo, fino e transparente" — e eu acrescento que podia ser um nariz falso. O Sr. Moncharmin pode tomar como transparência o que era apenas luzidio. Toda gente sabe que a ciência faz narizes falsos admiráveis para as pessoas que deles foram privadas pela natureza ou por alguma operação. Na realidade, o fantasma teria vindo sentar-se, aquela noite, no banquete dos diretores sem ser convidado? E podemos estar seguros de que aquele rosto era do próprio fantasma da Ópera? Quem ousaria dizê-lo? Se falo aqui desse incidente, não é porque queira acreditar ou fazer o leitor acreditar que o fantasma tenha sido capaz de tão soberba audácia, mas porque, em suma, isso é possível.
E aqui está, parece, uma razão suficiente. O Sr. Armando Moncharmin, ainda em suas memórias, diz textualmente no Capítulo XI: "Quando penso nessa primeira noite, não posso separar a confidência que nos foi feita, em seu gabinete, pelos Srs. Debienne e Poligny, da presença, em nosso jantar, dessa fantasmagórica personagem que ninguém de nós conhecia".
Eis exatamente o que se passou:
Os Srs. Debienne e Poligny, colocados no meio da mesa, não tinham ainda notado o homem com cabeça de caveira, quando este se pôs, de repente, a falar.
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