'O Fantasma da Ópera" 12° Capitulo

quinta-feira, 20 de agosto de 2009




Capitulo 12
Adaptado do livro Fantasma da Opera
Por Rafael Zimbrão

EM QUE, PELA PRIMEIRA VEZ, OS SRS. DEBIENNE E POLIGNY DÃO, EM SEGREDO, AOS NOVOS DIRETORES DA ÓPERA, SRS. ARMAND MONCHARMIN E FIRMIN RICHARD, A VERDADEIRA E MISTERIOSA RAZÃO DE SUA SAÍDA DA ACADEMIA NACIONAL DE MÚSICA


Durante esse tempo, dava-se a cerimônia de despedidas.
Eu disse que essa magnífica festa fora oferecida, por ocasião de sua saída da Ópera, pelos Srs. Debienne e Poligny que tinham querido, como se diz hoje em dia, morrer "numa boa".
Na realização desse programa ideal e fúnebre, haviam sido secundados por tudo aquilo de que Paris podia dispor de melhor na sociedade e nas artes.
Toda essa gente tinha marcado encontro no pavilhão da dança, onde Sorelli esperava, com uma taça de champanha na mão e um pequeno discurso na ponta da língua, os diretores demissionários. Atrás dela, comprimiam-se as suas jovens e velhas companheiras do corpo de baile, umas conversando em voz baixa sobre os acontecimentos do dia, outras dirigindo discretamente sinais aos seus amigos, cuja tagarela multidão já rodeava o bufê, que tinha sido arrumado em cima do assoalho em declive, entre a dança guerreira e a dança campestre do Sr. Boulenger.
Algumas bailarinas já haviam vestido suas roupas esporte; a maioria ainda estava com a saia de filó; mas todas acharam que deviam assumir semblantes de circunstância. Só a pequena Jammes, cujas 15 primaveras já pareciam ter esquecido em sua despreocupação — idade feliz — o fantasma e a morte de Joseph Buquet, não parava de cacarejar, tagarelar, pilheriar, tanto assim que, quando os Srs. Debienne e Poligny surgiram nos degraus do pavilhão da dança, ela foi chamada severamente à ordem por Sorelli, impaciente.
Todo mundo percebeu que os diretores demissionários pareciam alegres, o que, na província, não teria parecido natural a ninguém, mas, em Paris, foi visto como de muito bom gosto. Nunca será parisiense quem não tiver aprendido a colocar a máscara da alegria por cima de suas dores e o disfarce da tristeza, do tédio ou da indiferença por sobre a sua alegria íntima. Você vem a saber que um amigo seu está infeliz, não tente consolá-lo; ele dirá que já está bem; mas, se lhe aconteceu algo feliz, nem pense em felicitá-lo; ele acha a boa fortuna tão natural que ficaria admirado se alguém lhe falasse sobre isso. Em Paris, sempre se está num baile de máscaras e não é no pavilhão da dança que pessoas tão "avisadas" como os Srs. Debienne e Poligny iriam cometer o erro de mostrar a sua tristeza que era real. E eles já sorriam muito para Sorelli, que começava a desfiar o seu cumprimento, quando uma reclamação da louquinha da Jammes veio quebrar o sorriso dos diretores de maneira tão brutal que a imagem da desolação e do espanto, que estava por baixo, apareceu aos olhos de todos:
— O fantasma da Ópera!
Jammes lançara essa frase num tom de indizível pavor e o seu dedo apontava no meio da multidão das roupas pretas um rosto tão pálido, tão lúgubre e tão feio, com os buracos negros das arcadas superciliares tão profundos, que essa caveira assim designada obteve de imediato um sucesso louco:
— O fantasma da Ópera! O fantasma da Ópera!
E o pessoal ria, e se empurrava, e queria dar de beber ao fantasma da Ópera; mas ele já tinha sumido! Tinha deslizado no meio da multidão e buscaram-no em vão, enquanto dois senhores idosos tentavam acalmar a pequena Jammes e a pequena Giry soltava gritos apavorados.
Sorelli estava furiosa; não pudera terminar o seu discurso; os Srs. Debienne e Poligny abraçaram-na, agradeceram e escapuliram tão depressa quanto o próprio fantasma. Ninguém se admirou, pois sabia-se que eles iam ter de agüentar a mesma cerimônia no andar superior, no pavilhão do canto, e que por fim os amigos íntimos seriam recebidos por eles, pela última vez, no grande Vestíbulo do gabinete da diretoria, onde um jantar de verdade os esperava.
Foi lá que os reencontramos com os novos diretores Armand Moncharmin e Firmin Richard. Os primeiros mal conheciam os segundos, mas derramaram-se em grandes protestos de amizade e estes lhes responderam com mil elogios; de tal sorte que aqueles dentre os convidados que estavam temerosos por preverem uma noitada um pouco insossa mostraram imediatamente semblantes satisfeitos. O jantar foi quase alegre e, como houve oportunidade para vários brindes, o senhor comissário do governo mostrou-se particularmente tão hábil mesclando a glória do passado aos sucessos do futuro que a maior cordialidade logo reinou entre os convivas. A transmissão dos poderes diretoriais tinha sido feita na véspera, com a maior simplicidade possível, e as questões que restavam para acertar entre a antiga e a nova direção tinham então sido resolvidas, sob a presidência do comissário do governo, com um desejo tão grande de entendimento de parte a parte que, na verdade, não era de admirar encontrarem-se, naquela noite memorável, quatro semblantes de diretores tão sorridentes.

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