Estreia: "O Fantasma da Ópera" : Capitulo 1

sábado, 11 de julho de 2009



É O FANTASMA?


Naquela tarde, a mesma em que os Srs. Debienne e Poligny, diretores demissionários da Ópera, davam a sua última noite de gala, por ocasião de sua retirada, o camarim de Sorelli, uma das primeiras bailarinas da Ópera, era subitamente invadido por uma meia dúzia daquelas moças do corpo de baile que retornavam do palco após terem "dançado" Polyeucte. Precipitaram-se ali em grande confusão, algumas dando risos excessivos e outras, gritos de terror.
A bailarina Sorelli, que desejava ficar sozinha um instante para "repassar" o elogio que ela deveria pronunciar logo mais na academia, diante dos Srs. Debienne e Poligny, viu com mau humor toda essa turba estouvada atirar-se atrás dela. Voltou-se para as colegas e ficou tomada também de uma emoção tumultuosa. Foi a pequena Jammes — narizinho caro à Grevin, olhos de miosótis, faces de rosas, colo de lírio — que deu motivo a isso em três palavras, com voz trêmula, sufocada pela angústia:


— É o fantasma!


E fechou a porta a chave. O camarim de Sorelli era de uma elegância oficial e banal. Um psichê, um divã, um toucador e alguns armários constituíam a mobília necessária. Algumas gravuras na parede, lembranças da mãe, que conhecera os belos dias da antiga Ópera da Rua Le Peletier. Retratos de Vestris, de Gardel, de Dupont, de Bigottini. Esse camarim parecia um palácio para as meninas do corpo de baile, alojadas em quartos comuns, onde passavam o tempo cantando, discutindo, batendo nos cabeleireiros e nas figurinistas e tomando copinhos de cassis ou de cerveja, ou mesmo de rum, até o aviso dado pela badalada do sino.
Sorelli era muito supersticiosa. Ao ouvir a pequena Jammes falar do fantasma, arrepiou-se toda e disse:


— Bestinha!


E, como ela era a primeira a acreditar nos fantasmas em geral e no da Ópera em particular, quis imediatamente colher informações.


— Você o viu? — perguntou.


— Como estou vendo você! — replicou gemendo a pequena Jammes, que, já não se agüentando mais de pé sobre as pernas, deixou-se cair numa cadeira.

E logo a pequena Giry, olhos de jabuticaba, cabelos de nanquim, tez de bistre, com sua pobre pelezinha sobre os seus pobres ossinhos, acrescentou:


— Se for ele, ele é bem feio!
— Oh! sim — fez o coro das bailarinas.


E falaram todas juntas. O fantasma tinha aparecido como um senhor de trajes negros que se erguera de repente na frente delas, no corredor, sem que se pudesse saber de onde viera. A aparição fora tão repentina que se podia acreditar que saíra da muralha.


— Bah! — fez uma delas que havia mantido mais ou menos o sangue-frio —, vocês vêem o fantasma por toda parte.


E é verdade que, havia alguns meses, só se falava na Ópera desse fantasma de trajes negros que passeava como uma sombra de alto a baixo do edifício, que não dirigia a palavra a ninguém, a quem ninguém ousava falar e que se esvanecia, aliás, logo que alguém o via, sem que se pudesse saber por onde nem como. Não fazia barulho ao caminhar, como convém a um fantasma de verdade. As pessoas começaram por rir disso e por zombar dessa alma penada vestida como um mundano ou como um papa-defunto, mas a lenda do fantasma tomou logo proporções colossais no corpo de baile. Todas alegavam ter encontrado mais ou menos esse ser extranatural e ter sido vítimas de seus malefícios. Quando não se deixava ver, marcava a sua presença ou passagem com fatos esquisitos ou funestos pelos quais a superstição generalizada o tornava responsável. Havia um acidente a deplorar, alguma colega pregava uma peça a uma das moças do corpo de baile, sumia um arminho de pó-de-arroz? Tudo era culpa do fantasma, do fantasma da Ópera!
Na verdade, quem o tinha visto? Podem encontrar-se muitos trajes negros na Ópera que não são de fantasmas. Mas esses tinham uma característica que nenhum outro traje negro tem. Eles vestiam um esqueleto.
Pelo menos é o que diziam aquelas moças.
E ele tinha, naturalmente, uma caveira.
Tudo isso era sério? A verdade é que a imagem do esqueleto tinha nascido da descrição do fantasma feita por Joseph Buquet, maquinista-chefe, que, este sim, o vira realmente. Ele tinha trombado — não se poderia dizer nariz com nariz, já que o fantasma não o tinha — com a misteriosa personagem na escadinha que, depois da rampa, desce diretamente aos baixos. Teve tempo de visualizá-lo por um segundo — pois o fantasma fugiu — e conservara uma lembrança indelével dessa visão.
E eis o que disse Joseph Buquet do fantasma a quem quisesse ouvir:
"Ele é de uma magreza prodigiosa e a sua roupa preta flutua sobre uma estrutura esquelética. Tem os olhos tão profundos que não se distinguem as pupilas imóveis. Apenas se vêem, em suma, dois grandes buracos negros como nos crânios dos mortos. Sua pele, que fica esticada por sobre a ossatura como um couro de tambor, não é branca, mas feiamente amarela; o nariz é tão pouca coisa que não se vê de perfil, e a ausência desse nariz é horrível de se ver. Três ou quatro longas mechas pardas sobre a testa e atrás das orelhas fazem as vezes de cabeleira".
Em vão Joseph Buquet perseguira essa estranha aparição. Ela desaparecera como por encanto e ele não pôde encontrar-lhe o rastro.
Esse maquinista-chefe era um homem sério, acomodado, de imaginação lenta, e estava sóbrio. Sua fala foi ouvida com estupor e interesse, e logo apareceram pessoas para dizer que também elas haviam cruzado com uns "trajes negros em uma caveira".
As pessoas sensatas que tiveram notícia dessa história afirmaram primeiro que Joseph Buquet tinha sido vítima de uma brincadeira armada por algum de seus subordinados. E a seguir aconteceram, um após outro, incidentes tão curiosos que os mais espertos começaram a se atormentar.
Um tenente do corpo de bombeiros, isso é gente corajosa! Gente que não tem medo de nada, não tem medo principalmente de fogo!
Pois bem, o tenente do corpo de bombeiros em questão, que tinha ido fazer uma ronda nos baixos e se tinha aventurado, ao que parece, um pouco mais longe do que de costume, reapareceu de repente sobre o tablado, pálido, assustado, trêmulo, com os olhos fora das órbitas, e quase desmaiou nos braços da nobre mãe da pequena Jammes. E por quê? Porque tinha visto avançar para ele, à altura da cabeça, mas sem corpo, uma cabeça de fogo! E eu repito, um tenente do corpo de bombeiros é gente que não tem medo de fogo.
Esse tenente do corpo de bombeiros chamava-se Papin.
O corpo de baile ficou consternado. Primeiro essa cabeça de fogo não correspondia absolutamente à descrição que Joseph Buquet dera do fantasma. Fizeram-se muitas perguntas ao bombeiro, interrogou-se de novo o maquinista-chefe, depois do que as moças ficaram persuadidas de que o fantasma tinha várias cabeças que trocava conforme queria. Naturalmente, elas imaginaram que corriam os maiores riscos. Do momento em que um tenente do corpo de bombeiros não hesitava em desmaiar, coriféias e coristas bisonhas — "ratinhos" na gíria da Ópera — podiam invocar bastantes desculpas para o terror que as fazia fugir com toda a força de suas patinhas quando passavam diante de algum buraco escuro de um corredor mal-iluminado.

Web serie adaptada do livro " O Fantasma da Ópera"
Adaptação feita por: Rafael
OIFTV

2 comentários:

Blog disse...

E aí o que acharam?

Anônimo disse...

Muito bom, Felipe!

Parabéns,só que acho que está um pouco grande, mas o resto está perfeito!

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